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Abandono total: Em um ano, Porto Velho tem 3º maior crescimento em número de roubos entre capitais

Os registros de roubo e furto explodiram neste ano em todas as regiões do país, segundo levantamento da *Folha* em estatísticas de nove Estados -os únicos que disponibilizam números atualizados de bases de crimes contra o patrimônio.

A reportagem analisou informações das secretarias estaduais de segurança de Rondônia, Ceará, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul.

Todos eles tiveram aumento nos registros de roubos, em comparação com 2015.

É o caso do Rio Grande do Sul, por exemplo, que decretou estado de calamidade financeira na última terça (22). No Estado, os roubos aumentaram 20% de janeiro a junho deste ano (dados mais recentes) comparados ao mesmo período do ano passado. Só em Porto Alegre, o aumento foi de 27% nesse intervalo.

Outro local em grave crise nas contas públicas é o Rio de Janeiro, que sediou a Olimpíada em agosto. No Estado, houve aumento de 36% nos casos de roubo de janeiro a setembro de 2016 em relação a 2015 -na capital, os
casos aumentaram 22%.

O mesmo aconteceu no Paraná, que viu os roubos crescerem 29% no primeiro semestre deste ano. Em Curitiba, o aumento foi de 14%.

Os números absolutos não podem ser comparados entre os Estados, apenas as taxas de evolução, porque cada unidade federativa possui uma metodologia diferente para contabilizar os casos -podem somar ou não estatísticas da Polícia Militar e da Polícia Civil, por exemplo.

O Estado de São Paulo também vem acompanhando, mês a mês, esse aumento nos índices de roubos, ainda que em taxas menores que outros –a soma dos casos de janeiro a outubro deste ano mostra um aumento de 6% nesse tipo
de crime. Foram, no total, 270,5 mil registros neste ano, contra 255 mil no mesmo período do ano passado.

Uma modalidade que cresce no país é a de roubo de veículos. No Estado de São Paulo, já foram quase 64 mil registros apenas neste ano. A aposentada Veralice Nepomuceno, 62, moradora do Jardim Santa Adélia,
zona leste da cidade, teve quatro carros roubados em dois anos.

No último, dia 9 deste mês, bandidos a abordaram quando chegava em casa.

“Um carro me fechou, duas pessoas saíram e me renderam. Foi desesperador”, afirma ela, que teve roubado um veículo do modelo Logan. “Ontem, no meio da tarde, foi assaltada uma mulher na rua de cima. Eu
vou fazer tratamento psicológico. Não estou com condições de sair de casa mais. Estou com o carro da seguradora, mas não tenho coragem de sair”, diz.

No ano passado, em outro assalto, teve que insistir para que os bandidos liberassem seu neto, de cinco anos, que dormia no banco de trás enquanto seu carro era roubado. “Ele vai fazer seis anos e até hoje fala: ‘Vó, por que os caras pegaram seu carro?’. Marcou muito [a criança].”

CRISE

A principal explicação dos governos estaduais para a escalada na criminalidade é a crise econômica que atinge o país. Especialistas, contudo, questionam a justificativa.

Ignácio Cano, professor da UERJ (estadual do Rio) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ONG que reúne especialistas do setor, diz que “é uma hipótese, mas não a única”. “Temos aumento do número de roubos historicamente, inclusive quando a situação econômica é favorável”, diz ele. Mesma opinião tem Ludmila Ribeiro, do Crisp (Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública) da UFMG (federal de Minas).

Segundo ela, pode ter havido aumento de notificações de roubos de itens de menor valor, como celulares.

Ludmila aponta duas soluções: realizar campanhas de conscientização sobre a importância do registro de crimes e melhorar a estrutura de investigação dos crimes.

“Sou contra a política de metas em que se premia delegacias com menos casos de crimes, porque isso favorece a subnotificação. É preciso reconhecer os trabalhos de boa investigação dos policiais, premiar as delegacias que solucionam mais casos”, diz.

Cano atribui o aumento de roubos de veículos à especialização dos ladrões e diz que, nesse caso, “o trabalho de investigação é imprescindível”.

“No caso de crimes de rua, a prevenção é mais difícil. A polícia tem que ficar correndo atrás, mandar agente onde aconteceu o último roubo, que pode não ser onde vai acontecer o próximo”, diz ele.

CELULARES

Furtos e roubos de celulares e crise econômica são as principais explicações dos Estados para justificar o aumento nos índices de criminalidade neste ano.

O secretário de Segurança de Mato Grosso do Sul, José Carlos Barbosa, diz que 68% dos roubos no Estado são, atualmente, de celulares.

Ele destaca um investimento de R$ 100 milhões feito pelo governo estadual neste ano na área de segurança pública, para contratação de pessoal e compra de armamentos e veículos policiais.

Superintendente de investigações da Polícia Civil mineira, o delegado Luiz Flávio Cortat diz que parte do aumento de roubos pode ser creditado à “migração” da modalidade criminosa.

“Quando você investe na repressão qualificada do tráfico de drogas em determinada região, aquelas pessoas que se habituavam a ter esse rendimento criminoso tendem a ir a outras modalidades, como o roubo”, afirma.

Os celulares também se tornaram mais atrativos para os ladrões, diz ele. “Hoje, as pessoas têm aparelhos caros, de até R$ 4.000 no bolso. Os pequenos roubos ficaram mais atrativos”, diz.

LEGISLAÇÃO

Sobre roubos de veículos, o Rio Grande do Sul diz que a legislação “dá brecha” para o crime quando permite que presos por receptação possam ser liberados mediante pagamento de fiança.

A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo diz que, desde o início da série histórica dessas estatísticas, de 2001, os roubos e furtos caíram 62%.

O governo do Ceará cita a tese de maior notificação: diz que o aumento dos números desse tipo de crime reflete o esforço do governo para que a população registre boletins de ocorrência, “que viabiliza a intensificação de trabalhos policiais em locais com maior incidência de delitos”.

O governo do Paraná diz que contratou 2.200 policiais e 65 delegados em 2016, além de ter reforçado o número de carros da Polícia Militar.

A Secretaria de Segurança de Goiás afirma que, desde março, faz “ações ostensivas contínuas” na capital e no entorno do Distrito Federal.

A Polícia Militar do Rio de Janeiro diz que fez 22% mais prisões e apreensões neste ano em relação ao ano passado e que “continuará intensificando as operações”.

O governo de Rondônia diz que as estatísticas cresceram muito com roubos de celulares e afirma que tem “bons resultados” na recuperação de veículos roubados.

Autor:  Folha de S. Paulo

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