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Eleições medem impacto da pandemia na política e força do populismo nas urnas

Especialistas projetam enfraquecimento político de aliados do governo e de candidatos que não fizeram uma boa gestão durante o período

Especialistas projetam enfraquecimento político de aliados do governo e de candidatos que não fizeram uma boa gestão durante o período

Brasileiros de 5.569 municípios vão às urnas, neste domingo (15/11), para o 1º turno das eleições municipais de 2020 sob o impacto de uma das maiores crises globais de saúde da história moderna. Especialistas analisam que a condução do enfrentamento contra a pandemia do novo coronavírus será um dos maiores fatores para decidir o voto neste ano, transcendendo, em muitos casos, as avaliações sobre os tradicionais problemas cotidianos das cidades.

Além disso, o pleito deste ano pode começar a sinalizar uma tendência para as próximas eleições nacionais, em 2022, já que a onda conservadora e populista que carregou Jair Bolsonaro ao Planalto em 2018 também estará sob análise.

Cientistas políticos ouvidos pelo Metrópoles avaliam que a crise sanitária global mudou também a maneira de se fazer política e provocou alterações drásticas no formato das campanhas eleitorais. Neste ano, por exemplo, em função do risco de contágio pela Covid-19, candidatos não puderam promover grandes encontros com eleitores. Muitos nem mesmo conseguiram ir às ruas em busca de votos.

A alternativa encontrada entre os partidos para atingir o eleitorado também mudou. Se as eleições de 2018 indicavam a perda de força da publicidade eleitoral televisiva, em 2020 a propaganda na TV voltou a ganhar espaço, com o incremento de investimentos na comunicação pelas redes sociais. Os especialistas acreditam que, nesta edição, ficou mais difícil para candidatos novatos largarem na frente de velhos conhecidos da política brasileira.

“Divisora de águas”
Com o crescimento de infecções por coronavírus no país, havia um temor de que o processo eleitoral deste ano fosse marcado por uma “explosão de abstenções”. No entanto, o doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) Alcindo Gonçalves avalia que a expectativa não se confirmará neste domingo.

“Creio que os resultados de abstenção serão semelhantes aos de eleições anteriores, não acredito muito na explosão de abstenção, que no Brasil já é tradicionalmente alta. O isolamento social caiu, todo o protocolo desenvolvido pelo TSE não gera nenhum temor e estamos falando de uma eleição muito rápida: afinal, são apenas dois votos. Não há razão para medo”, explica o professor da Universidade Católica de Santos, em São Paulo.

Se a crise sanitária não provocar abstenção em massa, Gonçalves crê, contudo, que ela servirá como “divisora de águas” do cenário político brasileiro: “A pandemia irá impedir a reeleição de candidatos que não tiveram êxito no desempenho de controle da doença”.

“Pesquisas já mostram que prefeitos que tiveram uma ação mais incisiva na questão da pandemia, tomando medidas efetivas, estão melhores entre o eleitorado do que aqueles que foram mais descuidados. Um prefeito que se comportou mal na pandemia tende a ser mais mal avaliado. Não há coisa pior para um prefeito que concorre do que sua baixa avaliação”, completou.
Para o cientista político, a má gestão da pandemia por um governo fortalece os candidatos de oposição. “Até por isso defendo que será uma divisora de águas. Se o prefeito é mal avaliado entre os moradores do município, a coisa complica para ele, porque a oposição ganha espaço, ganha força. Ela cresce no erro do governante, cresce onde ele se absteve.”

A professora da escola de políticas públicas e governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Graziella Testa acredita em alta taxa de reeleição de prefeitos neste ano.

“A tendência neste ano, como teve muito prefeito se elegendo em primeiro mandato em 2016, é a de que haja a maior proporção da nossa história recente de prefeitos que estão aptos para reeleição. Significa que, como cerca de 80% podem se reeleger, é provável que a gente enxergue uma taxa de reeleição bem alta”, pondera.
A docente também analisa que o desempenho dos partidos mudou. “Não tem mais coligação para eleição proporcional. É o primeiro ano que os partidos terão que se virar sozinhos. O incentivo dessa regra é para que os partidos se fortaleçam e busquem estratégias internas para atingir o eleitorado”, acrescenta.

Efeito Bolsonaro
Além dos impactos da gestão da pandemia nas urnas, os estudiosos também calculam que o pleito ajudará a entender como os eleitores brasileiros consideram o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O chefe do Executivo federal tem feito campanha para alguns candidatos aliados. Pelos pedidos de votos durante as lives semanais, o mandatário do país virou alvo de investigação da Procuradoria-Geral Eleitoral, que busca saber se Bolsonaro cometeu “ilícito eleitoral”.

Para o especialista em marketing eleitoral Victor Trujillo, o apoio de Bolsonaro às campanhas municipais ainda é tímido se comparado ao já manifestado por outros presidentes do país em eleições anteriores. O professor avalia, inclusive, que “Bolsonaro desperdiça uma oportunidade”.

“Era hora de Bolsonaro estar presente, de se movimentar politicamente. Me parece que essa é uma estratégia dele, que ele não quer testar sua popularidade nas urnas. Acho que ele avaliou que o momento, diante da pandemia e dos desafios que o país atravessa, não é de testar sua popularidade nas urnas agora”, explica.

Diante do fraco apoio manifestado pelo presidente aos aliados, o especialista em marketing político projeta: “Essa estratégia há de se comprovar no futuro que não foi exitosa”.

“Bolsonaro não está construindo uma base de apoiadores para eleições de 2022 e não tem uma noção, um parâmetro se será reeleito. A importância das eleições municipais é garantir a capilarização do apoio. Toda cidade tem um Banco do Brasil e toda cidade tem um prefeito. Quem quer ser reeleger presidente precisa de apoio até nos menores dos municípios”, completa Trujillo.

Volta da política tradicional?
Outro ponto que poderá ser observado com os resultados ainda do primeiro turno, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, é o enfraquecimento ou fortalecimento dos governos populistas de direita, que ascenderam ao poder, no mundo todo, a partir do ano de 2016.

Graziella Testa, cientista política da FGV, crê em uma mudança estrutural significativa da política brasileira ocorrendo a partir deste pleito.

Metrópoles

 

foto ilustrativa

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