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Falta de controle: servidores federais não comprovam 43,3% das viagens

Governo diz que poupou 13% no valor dos bilhetes ao não usar agências, mas controle falho deixa 49 mil viagens com processo "em andamento"

Governo diz que poupou 13% no valor dos bilhetes ao não usar agências, mas controle falho deixa 49 mil viagens com processo “em andamento”

Perder um voo pode ser bem mais do que uma situação chata quando a viagem está sendo feita a serviço e paga com recursos do Estado: pode ser um caso de dano aos cofres públicos. A capacidade de fiscalização sobre as viagens dos servidores federais, porém, está prejudicada por fragilidades no sistema de compra direta de passagens desenvolvido pelo Ministério da Economia. O governo federal não sabe se foram mesmo utilizadas 43,3% das pouco mais de 113,5 mil passagens compradas por servidores entre março e julho deste ano.

Quando precisa de serviços oferecidos pela inciativa privada, o governo tem por regra fazer licitações: diz o que precisa e as empresas interessadas fazem propostas, com o menor preço sendo regra para a contratação. A compra de passagens aéreas não foge a essa regra: o governo contrata agências de viagens via licitação e as contratadas ficam responsáveis por atender às necessidades de viagens dos órgãos públicos.

Perseguindo um ideal de desmonte da burocracia nos serviços públicos, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) editou, em 25 de março deste ano, a Medida Provisória 877, que dava autonomia para os próprios servidores federais buscarem os voos que precisavam fazer a serviço, uma compra direta. Para pagar as passagens, os servidores – autorizados pelos chefes – poderiam utilizar cartões corporativos, que são ligados à conta bancária da União. Na época, a promessa era de uma economia de R$ 15 milhões por ano.

Dificuldades na articulação política
Mas essa promessa de economia não convenceu deputados e senadores. Vítima da frágil articulação política do governo no Congresso, essa MP não foi votada a tempo, perdeu a validade no último dia 23 de julho e as compras de passagens voltaram a ser feitas com o intermédio das agências de viagens licitadas. Mas a regra deixou um rastro de formulários incompletos nos três meses em que esteve em vigor.

O volumoso número de processos “em andamento” é o dado que mais chama atenção em levantamento feito pela (M)dados, editoria de análise de dados do Metrópoles, no Sistema de Concessão de Diárias e Passagens (SCDP), formulado pelo Ministério da Economia. O poder público não sabe se foram efetivamente usadas 49,2 mil das 113,5 mil passagens compradas por servidores entre março e julho. Entre os processos que foram finalizados, 6.536 informaram que os bilhetes foram cancelados e em 41,8% deles o passageiros não viajou nem cancelou nos prazos previstos, praticamente impossibilitando o reembolso do prejuízo.

Dos R$ 5,4 milhões gastos por servidores federais em passagens não utilizadas, apenas R$ 549 mil (10%) foram reembolsados aos cofres públicos – segundo os dados disponíveis no sistema.

ARTE/METRÓPOLES

Outro lado
De acordo com o Ministério da Economia, servidores que viajam a trabalho devem prestar contas até cinco dias após o retorno. Com a adoção do sistema de compra direta, porém, o controle sobre essa obrigação perdeu, segundo nota do ministério, “agilidade”. A pasta informou que, mesmo com o sistema não mais em funcionamento, “está desenvolvendo uma ferramenta que automatizará o acompanhamento da situação dos bilhetes não utilizados, de forma a desonerar o servidor dessa atividade e aumentar o controle nas aquisições de passagens”.

Ainda segundo a pasta, o reembolso de apenas 10% do valor pago pelas passagens canceladas está relacionado ao fato de os servidores serem incentivados a comprar os bilhetes com tarifas promocionais, que normalmente não preveem devolução do valor pago. Os técnicos do ministério alegam, também, que o prejuízo ainda pode ser recuperado no período de um ano, prazo de possível remarcação das passagens.

A investigação da demora na prestação de contas cabe, segundo o Ministério da Economia, ao órgão responsável pelo servidor que viaja. Se o cancelamento for autorizado pelo gestor desse órgão, o prejuízo fica com os cofres públicos. Se a decisão – ou a culpa – pela perda do voo for do servidor, ele pode ter de ressarcir os cofres públicos. O governo não forneceu dados sobre o volume de devolução de verbas por esse motivo.

Projeto de lei “engatilhado”
Apesar de a MP 877 ter “caducado” no Congresso, o Ministério da Economia não desistiu da ideia da compra direta de passagens. “A equipe técnica está com o projeto de lei quase finalizado e a ideia é apresentá-lo ao Congresso. Vamos melhorar o controle nessa nova fase, mas o balanço é positivo porque o governo economizou com a compra direta e reduziu a burocracia”, disse ao Metrópoles o diretor do Departamento de Logística do Ministério da Economia, Wesley Lira.

Não há previsão oficial para o envio do texto ao Congresso.

Governo aponta economia de 13%
O Ministério da Economia, em uma comparação entre a compra de passagens por agências, no ano passado, e por compra direta, no mesmo período deste ano, disse que “a diferença entre o valor médio do bilhete é de 13%, isto é, o bilhete emitido por compra direta foi 13% mais barato do que por meio das agências. O tempo médio de emissão também foi bem menor (2,77 dias contra 4,35 dias)”.

 

Arte/Matrópoles

 

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