Modern technology gives us many things.
Fumaça de queimadas em Porto Velho na quarta-feira, 24 — Foto: Thiago Bastchen

Professor Nazareno, o colunista mais polêmico do Norte, escreve: “Sete de Setembro na fumaça”

A íntegra da coluna redigida por Professor Nazareno

A íntegra da coluna redigida por Professor Nazareno

O desfile de Sete de Setembro em Porto Velho, Roraima, foi algo fantástico. Como sempre fui um patriota e amo de coração o Brasil, vesti-me com roupas verde-amarelas, comprei algumas bandeirolas do meu país e fui à Avenida dos Imigrantes para assistir ao espetáculo dantesco. A fumaça das criminosas queimadas na Amazônia quase inviabiliza aquele grandioso momento cívico repleto de declarações amorosas à pátria. Vi, extasiado, vários pelotões desfilando para delírio dos intelectuais, autoridades e pessoas esclarecidas ali presentes. Abrindo aquele espetáculo surreal, estava o pelotão dos donos de dragas e balsas que retiram ouro do rio Madeira. A “turma do mercúrio” estava alegre, encantada e a cada aplauso que recebia da plateia delirava ainda mais. A seguir estava o pelotão dos que desmatam e tocam fogo nas nossas florestas. “Essa fumaça é nossa”, gritavam todos!

O terceiro pelotão a desfilar na Imigrantes foi o do IBAMA. Ajudados pelo ICMBio e pelas secretarias estaduais e municipais de meio ambiente, os orgulhosos funcionários do órgão mostravam, com o peito estufado, toda a tecnologia adquirida para o combate ao desmatamento e aos incêndios florestais em Rondônia. “Ainda bem que a nossa eficiência é reconhecida pelo povo”, dizia um cartaz. Os aplausos quase que ensurdeciam as pessoas presentes. Havia também, claro, muitos militares naquela festa. O general Jorge Reacionário estava meio corcunda de tanta medalha e condecorações que trazia no peito. Representante maior das Forças Armadas em terras karipunas, o militar não disfarçava a emoção de representar a pátria e as suas autoridades, embora estivesse naquele meio de direita e ainda bolsonarista. “Democracia é tudo. Viva o 8 de janeiro!”.

Helicópteros da briosa Força Aérea Brasileira cortavam em voos rasantes os céus outrora azuis de Rondônia. Levantando tanta poeira no povão, quase não se viam arruelas, parafusos e ferrugem que caíam daquelas aeronaves. Esses “combativos” aviões de caça, provavelmente da década de 1930, estão prontos para defender a nossa pátria. “Temos condições de enfrentar qualquer ataque contra a nossa nação”, dizia em entrevista um orgulhoso tenente da FAB. Se por acaso os Estados Unidos ou qualquer outra potência da atualidade se “meterem a besta” contra o Brasil serão prontamente esmagados. Mísseis Tomahawk não são nem fichinha perto do poder de fogo que existe na base aérea de Porto Velho. Os Sukhoi-SU russos, Rafale franceses e os bombardeiros invisíveis Stealth dos EUA não teriam sequer coragem de vir tentar nos agredir. Seriam derrotados em minutos.

A PMRO estava também marchando na avenida. Armas modernas contra todo o tipo de violência social e urbana eram mostradas à multidão entusiasmada e orgulhosa. A COE era só rompança naquele momento. Homens treinados, salários altíssimos da tropa, armas modernas, táticas de combate, violência zero. Deu até pena da bandidagem. Isso se ainda existir uma só pessoa que tente entrar no mundo do crime. Pigarreando por causa da fuligem e da fumaceira constantes havia também no palanque oficial vários políticos. A confraternização era geral. Discursos emocionados pediam que a BR-319 fosse logo asfaltada para concluir o desenvolvimento de Rondônia. “Não vai demorar muito e teremos uma rodoviária nova, um novo hospital de pronto-socorro, saneamento básico, água tratada, esgotos, ampla arborização e mobilidade urbana”, gritavam vários dos representantes do otário povo que ali estava. Após todo o sacrifício, fui pra casa sorrindo.

*Foi Professor em Porto Velho.

 

foto ilustrativa

você pode gostar também
Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.